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PROJETO PSIU! - Relato de Wilson Sagae

Foi-me pedido um texto sobre o que é nosso trabalho corporal dentro do Projeto PSIU! A Dramaturgia do Silêncio. Para evitar uma bíblia vou resumir ao máximo, sem entrar em detalhes conceituais. Futuramente é possível esclarecer alguns aspectos que tenham ficado por demais resumidos.


Preparar atores para serem atores melhores é tornar o ator um ser humano melhor. Alguém mais cônscio de si e capaz de fazer o melhor uso de si mesmo. Para tanto utilizo referências várias que vão da Técnica de Alexander às Artes Marciais; passando com destaque por métodos de respiração (ou deveria dizer: utilizando especificamente técnicas de respiração para onde todas essas outras referências convergem).


Um aspecto fundamental são as palavras (conceitos) expressos durante os encontros. Para evitar o excesso de termos orientais, utilizo uma transcrição – interpretação segundo o uso – de certos conceitos vindos do Japão e China. Para tanto me aproveito da linguagem vinda da Teoria do Trauma, desenvolvida por Peter Levine. Tomando trauma por um processo que não se concluiu, reflito sobre o fluxo ou estagnação da energia em nosso corpo – energia na troca interna e externa. Quando esse processo trava, temos um trauma. (para quem tem algum conhecimento de medicina tradicional do oriente ou mesmo leituras a respeito de Ki e/ou Chi fica claro o paralelo).


Trauma pode ser um osso quebrado e não curado ou uma sensação de peso (algo que limita nosso movimento, pensar, sentir) que não desaparece. Por vezes acordamos dizendo sentir um peso nas costas, uma dor nas pernas, um incômodo na barriga (minha consciência pesa, o medo me trava etc) e agimos como se isso fosse natural e permanente, ao invés de perceber a sensação de peso como uma opção – algo que podemos fazer uso e depois seguir adiante vivendo de maneira leve. Em um resumo do resumo, o trabalho com o grupo é entender que a sensação de peso como limitação de vida é um mal entendido no uso de si mesmo e desenvolver meios de viver de forma leve.


O projeto de trabalho envolve um ano de acompanhamento do grupo, com aulas semanais. Nos primeiros encontros passamos por uma série de exercícios visando apresentar e desenvolver capacidades proprioceptivas e sensoperceptivas, assim como certas qualidades de grupo – grupo tratado como individualidade coerente e capaz de seguir a um objetivo. Ao mesmo tempo serviu para uma avaliação de cada um deles e da dinâmica em conjunto.


Em um segundo momento fizemos exercícios específicos nos quais o desafio e o risco estavam sempre presentes. Assim apresentamos a superação de atividades mais e mais complexas como algo cotidiano; e tornamos o avançar como resultado da confiança no grupo.


A seguir passamos a exercícios nos quais é necessário delegar liderança em um estado de limitação complexa (olhos vendados), sem com isso abandonar a si mesmo completamente.


Cada fase até o momento buscou aprimorar o entendimento dos conceitos, o valor da leveza, o uso da leveza como instrumento necessária à superação e o exercício como validação do método. A respiração entrou como especificidade técnica em todos os momentos.

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