Neste última semana o planeta perdeu Peter Brook, um diretor de teatro brilhante que deixa espetáculos, livros, filmes e aulas que ressoarão por muitas gerações de artistas.
Só a título de contexto, caso você não saiba ele quem foi: britânico de nascimento, ele fundou uma companhia multi-cultural, com artistas de diferentes nacionalidades, sempre em busca de novas formas de comunicação cênica com o público que partisse dos artistas cênicos. Em sua companhia trabalharam contadores de história como o griot Sotigui Kouyaté, Yoshi Oida e muitos, muitos outros.
Peter Brook (e o seu livro "A Porta Aberta") fez parte dos estudos que o nosso grupo fazia na Faculdade de Artes do Paraná-FAP - juntamente com o livro de Yoshi Oida ("O ator Errante") - e eram constantemente citados por nós como ideal de ética de trabalho e de uma busca por uma relação direta com o público. Quando o grupo fez o seu primeiro espetáculo - AMORES & SACANAGENS URBANAS - em que a gente tinha figurinos, adereços e mais nada, a gente sempre citava a experiência do grupo do Peter Brook e pegar apenas um tapete, para limitar o espaço cênico, e sair pelo continente africano tentando uma comunicação que não dependesse de mais nada além do artista.
A única vez que o Antropofocus, em seus 22 anos de história, organizou uma viagem para ver uma apresentação de teatro fora de Curitiba, foi quando a companhia do Peter Brook trouxe a sua versão de "Hamlet" para São Paulo. Numa era pré-internet, no ano de 2002, durante a nossa temporada de "AMORES", a gente se apresentou no domingo de manhã, arrumou o palco e pegamos a estrada direto pra ver os mestres em ação. Foi muito impactante, para todos nós, ver um Hamlet que acontecia no famoso tapete e que dependia "apenas" dos brilhantes artistas daquela trupe.
Eu já vi algumas versões de Hamlet nesta vida, mas só vi uma versão em que a cena dos coveiros me fez chorar de rir - pela graça como pela emoção de ver o que era possível na nossa arte - que foi feita com o mestre Sotigui Kouyaté naquele teatro em 2002.
Algumas pessoas esquecem que o Antropofocus é um grupo de teatro que tem a comédia como ferramenta para se comunicar com o público. Antes de tudo, somos um grupo de teatro. Se um dia fizemos questões de estar de pés descalços para melhor sentir o chão e a nós mesmos, limitar um espaço onde tudo pudesse ser possível, acreditarmos que existe uma razão profunda para que histórias sejam contadas ao vivo para as pessoas, Peter Brook e sua companhia são responsáveis por esta vontade.
Somos eternamente gratos, mestre. Descanse em paz.
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